quarta-feira, 20 de junho de 2012

Em Busca de Um Grande Amor








Em Busca de Um Grande Amor
Gilberto Strapazon


Mais um dia ensolarado lá fora.
Lucia olhava a rua pela grande vitrine da loja de perfumes. Ambiente simples e bem distribuído, brancas prateleiras e vitrines que apresentavam os delicados frascos.
Parece uma enfermaria perfumada, pensou ela de novo. Com certeza a decoradora deve achar que um visual clean não precisava de umas almofadas, umas cortinas e tapetes coloridos.
Do outro lado da rua, a mesma praça com seus canteiros floridos e bem organizados. Algumas pessoas já andavam pelas ruas e os poucos carros que transitavam pela manhã pareciam ir a lugar nenhum.
Ela olhou um Jaguar que passava. O motorista tinha uma aparência solitária e olhou para a vitrine da loja enquanto passava.
Lucia pensou se ele a perceberia, quem sabe. Ele era bonito, seus ombros eram largos.
Com certeza a decoradora não deve saber muito sobre pessoas pensou ela.
Aquele homem poderia entrar na loja, pensou sentar comigo num confortável sofá. Mas não tem nenhum aqui! Só estes malditos bancos altos.
Alguém esqueceu que perfumes induzem sentimentos também. Então por que não aumentar isto com um espaço confortável?
Ele poderia segurar na minha mão. Sentiu um calor no baixo ventre. De novo.
Não ali, não. Poderiam vê-la pela vitrine.
Mas se fosse com ele, talvez não importasse.
Faria uma loucura ali mesmo.
Puxou o ar e uma fragrância doce misturada com outra amadeirada a fez pensar que talvez ele gostasse daquele cheiro espalhado no seu peito.
Seria peludo? Ela adorava homens peludos. A barba bem feita, os braços fortes carregando-a no colo.
Adorava quando a seguravam pela cintura estreita. Sentia-se tão pequena e protegida.
Alguém entrou na loja. O jaguar já havia passado a muito. Era uma adolescente usando umas roupas em estilo gótico, muito bem feitas. Uma vendedora foi atendê-la enquanto Lucia observava de canto e cuidava do movimento na rua.
Logo notou que a vendedora e a cliente pareciam mais íntimas.
Lembrou-se dela.  Foi numa loja de roupas ali perto em que esteve por algum tempo.

Qual era o nome dela? 

Lembrava-se do cheiro do corpo dela naquela loja.
Ela não percebeu a presença de Lucia ao lado quando entrou no provador com uma das atendentes.
Levava um bonito conjunto de lingerie, corpete, sutiã. Estava com um vestido bem curto. A bainha tinha rendas que deixavam a mostra mais do que deviam. A pele dela era branca, muito branca.
Ela notou que havia marcas aparentes de palmadas aparecendo bem no alto das coxas. Imaginou o desenho dos dedos em roxo na bunda dela.
Ela tinha um jeitinho meigo. Se estivesse de terninho passaria por uma colegial insonsa.
Escutou elas conversando baixinho enquanto provavam as roupas. Escutou os estalinhos de beijos molhados, a respiração abafada. O cheiro do sexo surgiu no ar.
Lucia apenas escutava e por uma fresta na cortina do provador pode ver as duas. A cliente se esfregava na vendedora pelas costas. Tinha alguma coisa numa mão que passava nas pernas dela enquanto a outra segurava o queixo dela para trás. Parecia morder a nuca dela.
Ficaram algum tempo ali. Lucia não podia sair dali.
Quando saíram pelo outro lado, a cliente disse que ia levar todas as roupas e foram para o caixa. Enquanto pagava com o cartão de crédito, olhou direto para onde Lucia estava por um longo tempo. Ela sabia que Lucia estava ali. Depois veio até ela e com um sorriso maroto passou o dedo pelo seu rosto e desceu lentamente entre seus seios até o baixo ventre. O calor que já sentia no ventre aumentou. Mas a cliente apenas deu um sorriso, mordiscou o lábio e saiu sem nada falar.


Era ela sim. A mesma moça da outra loja. Tinha pintado as bochechas num leve rosado ou alguém teria batido no seu rosto. Os olhos pareciam curiosos. Os brincos eram metálicos, mas muito delicados.
Agora se encontraram na loja de perfumes. Será que viu Lucia ali junto da vitrine? Lembraria dela?
A vendedora parecia muito entusiasmada mostrando alguns perfumes muito caros.
Na praça um casal de meia idade sentou-se ao sol. Ela tinha uma flor nas mãos. Estava na cara que estavam de férias. Olhavam para tudo um pouco, riam às vezes. Ele segurava na mão dela.
Lucia tentou lembrar-se de uma mão apaixonada segurando na sua. Esse sentimento era como um buraco no seu peito. Gostaria de uma companhia, alguém para cuidar. Repartir uma xícara de chá nos dias frios.  Fazer amor no chuveiro ou tricotar uma blusa para ele.
Sim, faria isso. Uma blusa tricotada com alguns fios do cabelo dela. Escutara as carolas de a igreja sussurrarem isto para as filhas segurarem seus noivos. Casamento garantido! Diziam elas segurando seus rosários. 
Lembrou-se daquele executivo todo sério que a abraçou certa vez. Ela quis fechar os olhos e fugir. Queria tanto, mas tinha medo como uma adolescente. Ele foi rápido. Molhou a roupa dela sem constrangimento e depois saiu para nunca mais voltar. Mais um entre tantos.
Como era o nome do filho do dono daquela distribuidora? Ele a deixava toda amarrotada. Quantas vezes precisou limpar até o cabelo correndo. Taradinho, mas muito carinhoso.
A cliente apanhou um pacote no caixa. A vendedora estava discreta ao seu lado. Ali não havia nenhum lugar reservado. Ela parecia um cãozinho esperando um petisco da cliente. Foram até a porta e discretamente, a cliente deu um leve beijo na boca da vendedora. Abriu a porta e quando ia sair, virou-se e olhou direto para Lucia.
O mesmo olhar. Sentiu o calor invadir seu corpo. Ela lembrava. Aquele sorriso maroto e cheio de segredos. Voltou para dentro da loja, a vendedora veio junto. Foram até perto da vitrine. Ela olhou um frasco alto, de cristal e olhou para Lucia de lado. E a tocou de novo, disfarçadamente. A mão encostada no seu ventre era macia, quente, muito quente.
Pensou que fosse desmaiar. A vendedora não havia notado.
A cliente deu uma risada alta. Os olhos negros no meio do estreito rosto, a pele muito branca. O decote. Ela tinha uma marca roxa entre os pequenos seios.
Afastou-se e foi embora.
A sensação era boa, mas não era o que Lucia queria. Talvez um flerte quem saiba. Ela queria que algo a preenchesse. Um parceiro, filhos, uma casa com varanda.
Só percebeu o movimento de relance e o estrondo.

Horas depois as vendedoras ajudavam a limpar a loja. O caminhão que subira na calçada fizera algum estrago, mas não machucara ninguém felizmente.
A gerente mandou a vendedora tirar o manequim da vitrine. Ia aproveitar o acidente para fazer uma pequena reforma na decoração, colocar alguns tapetes e quem sabe um bar lá no canto. Uma área reservada para conversar a sós com clientes vip.
E já tinha até uma interessada em comprar o manequim que felizmente não quebrara com a batida. Uma cliente meio-maluca, destas adolescentes góticas que às vezes passava por ali.



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