quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Super-Herói



Super-Herói 
Márcio Chacon



Já era tarde, mas a festa prosseguia bastante animada. Ela era a rainha da noite. Sua fantasia de Mulher Maravilha brilhava de longe e chamava a atenção de todos. Ela sabia que o foco de atenção estava todo canalizado nela. Seu corpo atlético era desejo de muitos naquela boate.
Nossa cobiçada heroína foi passeando lentamente até o bar onde pediu uma bebida.  Um Coringa apareceu totalmente embriagado e sentou ao seu lado. Sua pintura no rosto estava totalmente borrada. O suor havia destruído por completo sua demorada maquiagem e a cerveja já afetava seu modo de andar. Mesmo num estado lastimável aquele homem se ofereceu para pagar um drinque. Nossa Mulher Maravilha segurou o riso e aceitou que ele arcasse com a despesa. Assim que o barman chegou com os drinques ela pegou seu copo e deixou o pobre coitado falando sozinho.
Saiu do bar e foi desfilando com o copo lentamente pela pista de dança. Sua roupa brilhava tanto como as luzes daquela boate. Achou uma mesa vaga e sentou depois que acomodou o copo gelado ao lado do celular. Fitou alguns rostos, mas não achou nenhum interessante.
Um mascarado usando uma fantasia amarela apareceu e perguntou se gostaria de dançar. Nossa bela heroína chegou a pensar por alguns segundos tentando descobrir que personagem seria aquele, mas respondeu algo mais apropriado para aquele momento... Uma leve mentira:
- Não posso. Meu namorado está vindo.
Isso bastou para o mascarado sumir na multidão. Ela conferiu o celular mais uma vez... Recebia mensagens a todo instante.
No momento que estava deletando alguns recados outro herói apareceu. Ele era alto, magro e tinha olhos tão lindos quanto os dela. Usava uma fantasia de Super-Homem e tinha uma tatuagem tribal muito bonita na sua mão direita. Ele era bastante interessante e nossa heroína adorou sua abordagem. Aquele belo herói lhe deu uma rosa e pediu permissão para sentar ao seu lado. Cochichou no seu ouvido uma cantada meio infantil, mas que saiu até bonitinha para o momento. Algo do tipo ser especial, ser a escolhida, ser sua rainha para voarem juntos e conquistarem o universo. Aquilo já havia sido suficiente para trocarem alguns beijos.
Não havia mais necessidade para uma conversa até porque a música alta atrapalhava o diálogo e o entendimento das palavras que aquele Super-Homem dizia. Entre um beijo e outro veio o convite para saírem dali.
Ele sugeriu irem ao seu apartamento que ficava no décimo andar do prédio ao lado. A noite estava perfeita e sua sacada tinha uma vista linda.
Ela abraçou aquele Super-Homem e ambos saíram juntos da boate até o prédio do outro lado da rua.
Rapidamente entraram num prédio deserto e pegaram o elevador até o décimo andar. Dentro do elevador nossa heroína conferiu mais uma vez os olhos do seu Super-Homem. Eles já não brilhavam mais como antes. Talvez por causa da iluminação da boate ou talvez pelo efeito temporário de alguma droga que ele tivesse usando, mas quem se importaria com isso? Ele era lindo.
Assim que entrou no apartamento nossa Mulher Maravilha percebeu que não havia móveis nele. Havia apenas algumas caixas de papelão ainda lacradas. Rapidamente presumiu que aquele homem estaria se mudando.
Ele então abriu o vidro de sua sacada e a chamou para admirar a vista. Ela imediatamente foi até ele e enxergou uma noite linda, fria, silenciosa e muito bem acompanhada de uma lua que parecia ter sido desenhada para eles. Nosso herói tocou seu pescoço, acariciou seus cabelos e disse a coisa mais insana que alguém poderia dizer naquele momento:
- Voe.
Nossa Mulher Maravilha não entendeu bem a ordem, mas não disse nada. Apenas fez uma cara de alguém boiando na conversa.
Aquele homem mudou... Enfureceu-se. Puxou uma faca afiada do bolso, pressionou sobre seu rosto e gritou:
- Eu quero que você voe, Mulher Maravilha!
- A dor da lâmina entrando no seu rosto era forte e real. Aquilo era real. Não sabia o que fazer. Algumas lágrimas começaram a rolar sobre seu rosto e se misturar com o sangue provocado pela lâmina.
- O que você quer? Por que está fazendo isso?
- Eu sou o Super-Homem e você é minha rainha, mas para ter certeza eu preciso que voe pra mim.
A dor no seu rosto era gigantesca. Olhou para a rua, olhou para a boate... Ninguém ia escutar mesmo que gritasse. Além de estar longe a música da boate era muita alta e ninguém escutaria seu pedido por socorro. Segurou o choro e murmurou:
- Mas eu não sei voar.
- É claro que sabe. Você é a Mulher-Maravilha. Você é a minha rainha. Sabe quantas mulheres precisei matar para chegar neste momento? Muitas morreram no passado. Muitas foram reprovadas por mentirem. Não passavam de vagabundas usando a roupa da minha Mulher Maravilha... A sua roupa.
Neste exato momento nossa heroína percebeu que aquele homem era completamente louco e que tudo que falasse para ele seria em vão. Lentamente afastou a lâmina do seu rosto e subiu na pequena mureta da sacada. Olhou para baixo e simulou uma preparação de salto. Seu corpo tremia, seu rosto já estava totalmente pintado de sangue. Talvez no pior momento da sua vida também tenha surgido a melhor e mais absurda das idéias que já tivera:
- Eu não posso voar.
- Por que não?
- Eu sou sim a Mulher Maravilha, mas nunca voei. Assim como o Batman e o Robin. De todos os heróis que conheço o único que sabe voar é o Super-Homem.
O olhar daquele homem mudara. As palavras dela realmente haviam afetado sua mente insana. Ele estava em dúvidas. Pensou por breves segundos, jogou fora sua faca e disse:
- Então eu vou saltar.
Nossa heroína permanecera em silêncio. Sabia dentro dela que o havia vencido. Usara uma resposta maluca para derrotar um homem maluco.
Aquele homem subiu na mureta posicionando-se bem ao seu lado.
- Vou te provar que posso voar. Que eu sou o Super-Homem.
- A Mulher Maravilha sorriu... Não por acreditar naquela afirmação, mas pela certeza que estava salva daquele doido. Aquele desgraçado jamais sobreviveria com a queda. Sua felicidade era a morte daquele homem.
- Aquele Super-Homem olhou para a lua e esboçou um salto. Parou e voltou a olhar para nossa heroína. Seus olhos voltaram a brilhar como antes na boate. Ele sorriu e perguntou?
- Quer voar comigo? Eu te levo.
E antes dela dizer não ou dela pensar em fugir dali... Antes de qualquer reação, aquele homem a puxou pelos braços e saltou. E então ambos caíram.

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