quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Desfecho



            

Desfecho
Márcio Chacon



             Seu coração batia cada vez mais rápido, suas mãos tremiam e as lágrimas dos seus olhos se misturavam com o sangue do seu rosto. Estava paralisada e totalmente à mercê daquela criatura. Como ia adivinhar que seu ente mais querido iria se transformar numa espécie de lobisomem?

            Aquele monstro faminto de olhos grandes e dentes afiados parecia ter a hipnotizado, pois a infeliz moça não conseguia se mexer, não conseguia fugir.

            Foi quando a fera chegou bem perto e a puxou pelo braço. Um puxão violento o suficiente para sentir um osso do seu braço romper e fazer aquela linda jovem gritar. Mas era em vão. Já se faziam meses que quase ninguém passava por aquela região, pois quase todos os animais já haviam sido mortos pelos caçadores.

            O feroz monstro aproximou seu grande focinho até o rosto da jovem. Seu perfume se misturava com seu sangue e isso ia aumentando cada vez mais sua fome por carne humana.


            A fera não hesitou e mordeu o pescoço de sua vítima. A triste moça teve poucos segundos de uma dor absurda até sentir uma incrível sensação de sono. Tentou juntar forças e suplicar pelo pouco de vida que ainda lhe restava. Murmurou poucas palavras do tipo, ser uma pessoa especial e que muitas gerações precisavam que ela vivesse naquele momento. Mas foi tudo em vão. A criatura continuava a morder seu pescoço de uma maneira violenta e cruel. Somente foi soltá-lá quando percebeu que a garota já estava morta.

            O monstro ficou alguns segundos admirando o belo corpo de sua vítima caída diante dele. O sangue derramado combinava com a capa que aquela garota usava. Talvez não precisasse realmente tê-la matado, mas sua fome era gigantesca. E foi então que a vovozinha, transformada em Lobo-Mau, comeu a Chapeuzinho-Vermelho.



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os Maus




Os Maus
Márcio Chacon

Renato conferiu o relógio mais uma vez antes de começar a guardar o material em sua mochila. O caderno foi guardado do mesmo jeito que fora tirado, pois não havia sido usado durante toda a aula de matemática. A conversa com Trindade realmente o havia afetado bastante.

Novas gangues estavam surgindo e com a prisão de Alemão havia a necessidade de um novo líder. Quando recebeu o telefonema de Trindade sabia que iria ser testado a partir daquele momento.

A gangue deles era composta por jovens de 13 no máximo 17 anos. A exceção era Trindade que completara 19 anos e até já havia sido preso por roubo. Ele poderia facilmente reunir os demais membros da gangue e se eleger como o novo chefe, mas preferiu testar Renato depois da aula.

O local escolhido foi um fliperama a poucas quadras da escola. Após a prisão de Alemão muitos garotos de uma gangue rival começaram a frequentar o lugar diariamente... Prática considerada proibida, pois cada gangue tem o seu local de encontro e isso vinha sendo respeitado quando Alemão ainda estava por perto.

Renato chegou ao fliperama poucos minutos após o término da aula.  Viu Trindade do outro lado da rua, mas não esperou por ele e entrou sozinho no estabelecimento. Esbarrou propositalmente num garoto da gangue rival e foi em direção às máquinas bem ao fundo do fliper. Antes de chegar até elas percebeu que fora seguido pelo mesmo garoto e seus amigos... Um confronto ali era inevitável.

Rapidamente e quase sem pensar, Renato tira a faca, que estava escondida embaixo de sua camisa, amarrada por um barbante. Num movimento brusco e certeiro, aloja a faca no braço do garoto desafiado, perto do bíceps. Sentiu a pele romper-se e a faca penetrar as carnes macias e quentes de seu adversário. Seguiu-se um silêncio, e quando deu por si, estava sendo observado por todos no fliperama. O menino que fora atacado, após o susto, começou a chorar copiosamente. Renato foi até a rua e procurou os olhos de Trindade, que o observava de maneira serena, quase como se ele esperasse por aquilo. Finalmente Renato havia mostrado do que era capaz. Então saiu correndo, esquecendo Trindade, a faca, e tudo mais para trás. Sentia-se quente, ao mesmo tempo com um frio no estômago. Sentia vontade de correr até o outro lado da cidade e voltar, tamanha sua energia naquele momento. E correu muito, andou mais um tanto, só voltando para casa ao anoitecer.

No outro dia, Trindade veio lhe procurar para lhe dizer algo que já sabia: Ele era o novo líder.