A Maldade de Régis
Régis era mau.
Era conhecido como o monstro do 3º Batalhão do Exército. O apelido foi dado em
razão do seu físico avantajado e de várias cicatrizes espalhadas pelo corpo.
Muitas histórias são contadas por causa do seu comportamento violento. Dizem
que certa vez na final do torneio de futebol envolvendo nosso batalhão ele
teria quebrado as duas pernas do goleiro rival... O motivo é que o coitado
estaria demorando demais para repor a bola em jogo.
Régis
realmente era mau. Ainda no seu tempo de recruta levou um tiro no rosto durante
uma ocupação na favela Cruzeiro... Perdeu dois dentes na boca e ganhou um corte
feio no rosto que foi disfarçando com o tempo na medida que seu bigode ia
crescendo. Sua recuperação era fantástica... Mal saía do hospital e já estava
de volta com o batalhão para uma nova operação. Infelizmente durante sua última
missão no campo foi baleado gravemente na perna. Ficou um bom tempo internado
com risco de amputação, mas o desgraçado conseguiu se recuperar sem a necessidade
de uma cirurgia. O problema é que não conseguia correr como antes. Foi lhe
oferecido uma função administrativa bastante remunerada dentro do batalhão, mas
o monstro queria voltar para o campo. O seu tenente Peter decidiu afastar o
monstro e iniciar um treinamento sigiloso em separado. Queria testar Régis na
próxima avaliação para sargento.
As provas
físicas eram extremamente cansativas para quem quisesse virar sargento no nosso
batalhão. As atividades eram monitoradas pelo sargento Thomas... Um homem arrogante
e bastante cruel. Gostava de passear ao redor dos novatos com um cabo de
vassoura e mandando os mesmos baixarem suas calças. Thomas também conhecia
Régis... Sabia que ele era forte como um touro, mas que vinha de uma séria
recuperação na perna. Thomas foi caminhando de soldado a soldado até parar de
frente com o monstro. Fitou Régis pelos olhos e gritou:
- A primeira
parte da prova é moleza, meninas! Basta darem duas voltas ao redor da mata! O
último que chegar será a minha mulher, entenderam?
Todos responderam
com exceção de Régis que sorria para seu sargento. Thomas se enfureceu:
- Por que não
respondeu, monstro?
Régis então
começo a rir copiosamente e antes que Thomas pudesse interceder puxou o mesmo
pelos braços e tacou-lhe um forte beijo em sua boca. O rosto do pobre homem foi
coberto pelo vasto bigode de Régis. Aquele beijo foi demorado, muitos soldados
ficaram paralisados diante daquela situação. Houve muita confusão depois deste
incidente. Todas as provas e avaliações do nosso batalhão foram suspensas,
Régis foi expulso e Thomas foi suspenso por tempo indeterminado.
Somente muito
tempo depois fui receber notícias dos dois homens. Régis passara o resto do seu
tempo bebendo e arranjando brigas nos bares do centro. A poucos dias
encontraram seu corpo nas margens do Guaíba. O monstro, provalmente bêbado,
teria caído e se afogado. O fim de Thomas não foi menos trágico... Assim que a
notícia do beijo se espalhou afetou não só sua carreira militar como também sua
vida pessoal. Na noite em que sua esposa o deixou Thomas escreveu um bilhete de
despedida para seus superiores e em seguida se matou com um tiro na boca.
Tudo isso por
causa de uma tragédia envolvendo um simples beijo. Tudo isso porque Régis era
mau.
Escrito por Marcio Chacon (20/02/2015)
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