quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Atirador



O Atirador
Márcio Chacon


O prédio é velho e os degraus barulhentos. Ouvi falar que daqui a alguns meses será demolido pela prefeitura para a construção de um shopping. Se pretendem valorizar o bairro deveriam refazê-lo por completo. Destruir tudo e começar do zero.

A medida que vou subindo por aquelas escadas sombrias o fedor vai aumentando. Vagabundos, drogados e prostitutas provavelmente também usem os corredores como seus banheiros particulares.

Chego ao terraço e aspiro ar fresco novamente. Largo a bolsa no chão e fico admirando toda a beleza de vista que o terraço me oferece. O dia está bonito... Ainda é cedo, mas o armazém já está aberto. O velho sempre abre cedo. Tiro o rifle da bolsa e o posiciono como havia preparado ontem. Aos poucos se percebe uma certa movimentação ao redor do armazém. Decido esperar um pouco mais. Encho um copo com o café já frio e abro um pacote de biscoito.

Passam-se vinte minutos e já tenho o que definiria como opção ou alternativa. O que mais me excita nesse serviço é a capacidade que temos na improvisação. Basta saber trabalhar com o que tem. Tendo uma boa pontaria... O silenciador faz o resto pra você.

De longe percebo uma mulher estacionando seu carro. Guardo o pacote de biscoito enquanto espero ela descer do veículo. Antes de trancá-lo com o alarme recebe o meu primeiro tiro. Ele é certeiro... Direto em sua nuca. Um ciclista que estava passando larga a bicicleta na rua e corre em sua direção. Acerto suas costas... O impacto da bala é tão forte que o derruba na hora. Tenta gritar por ajuda e se arrastar até a calçada... Neste momento desfiro outro tiro nele. O pessoal começa a sair de dentro do armazém. Acerto o rosto de uma mulher que carregava várias sacolas com frutas. Já consigo enxergar o velho pelo vidro. Atiro e a bala faz aquele vidro se despedaçar diante daquele homem totalmente amedrontado.

Já escuto o barulho da polícia. Guardo o rifle na bolsa e desço os degraus rapidamente. O cheiro e o barulho não importam mais. Saio pelos fundos quase na parada do ônibus. Entro no 145... Ele vai me deixar umas cinco quadras de casa, mas não posso ficar rondando pelo bairro a pé. Pago o cobrador e passo pela roleta cuidadosamente evitando um possível choque com a bolsa. Sento bem ao fundo e procuro relaxar.  Espero que o velho tenha entendido o recado. Vou esperar o pagamento dele até sexta. Se ele não pagar eu volto. E então o mato.

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