segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Os Quatros Elementos Nem Sempre São Seus Amigos

The Elements.
Artista: Legend of Lmpf - Canadá

"A natureza é sábia mas não é burra. As fadas, gnomos, duendes, etc. não são o que pensam." 


Você que vive. 

Nós amamos vocês ou será que odiamos? 

Sabe quem somos? 

Está sózinho agora?  

Será que está mesmo? 

Quando fez sexo pela última vez? 

Será que estava apenas com outra pessoa? 

Mwhahahahahah!

Talvez não! 

Vocês nunca estão sózinhos!

Bebemos seu suor, cheiramos vocês, nos alimentamos do seu gozo. 

Estava pensando em quem? 

Na pessoa que estava com você? Será? 

Ou estava nos alimentando com suas fantasias? 

Sabe quem nos colocou mais perto com suas pornografias, suas propagandas sensuais que você pensam serem inocentes? 

Mwhahahahahah!

Nos alimentem seus humanos feitos de carne que vai apodrecer e voltar para nós. 

Façam sua lascívia pois ajudamos a terem mais pensamentos e desejos que vocês tem medo de admitir. 

Não temos medo da sua luz elétrica, não é nada para nós. Rimos quando acendem a luz por medo de ir ao banheiro no meio da noite. 

E o Sol é nosso amigo também pois é ele que cria a sombra!

Leve sua amada para o chuveiro e os espíritos das águas vão se deliciar com vocês se enroscando. 

Leve seu amante para o chão e os espíritos da terra lhe recebem e se deliciam!

Aqueça seu alimento, se agasalhem nos seus cobertores pois os espíritos do fogo estão lhe envolvendo!

Respire, fale uma poesia, cante, resmungue ou xingue na orelha dela falando aquelas palavras que ela gosta mas nunca vai se libertar dos espíritos do ar!

Nós somos os espíritos dos quatro elementos e vocês vieram de nós. 

Mas não vamos proteger quem não nos proteja, não limpa sua calçada, não cuida da natureza. 

Tolos são os que apenas recebem o que lhes damos de bom sem pensar que jamais estiveram sózinhos e vocês são nosso alimento também. 


.'.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Paixão de Elevador



A bela e jovem loira mal me vê quando entra no elevador conferindo seu celular. Chega a se assustar quando percebe minha presença ao seu lado. Sorrio para tentar eliminar seu embaraço. Ela devolve um sorriso forçado... Mentalmente deve acreditar que todo homem com mais de 40 anos e cabelos grisalhos é capaz de atacar mulheres no elevador.
O que me irrita nessas situações é a falsidade das pessoas consigo mesmo e para com todos a sua volta. A moça me conhece. Seu nome é Amanda e trabalha no almoxarifado da empresa. Diariamente lhe entrego correspondências e ela sempre confere envelope por envelope antes de me entregar o aviso de recebimento assinado. Semana passada chegamos a conversar sobre uma música que estava tocando no seu rádio. Mas tudo muda dentro de um elevador. Somos apenas estranhos esperando a porta abrir para voltamos para nossos serviços medíocres e mal-remunerados.  
O elevador pára no terceiro andar antes de chegarmos no térreo. Uma ruiva alta entra lendo um documento que parece ser importante. Talvez não conheça Amanda, mas tenho certeza que ela me conhece. Seu nome é Júlia e é a nova advogada da empresa. Também já entreguei correspondência pra ela e ontem a ajudei na máquina do café. Júlia tem sorte. Realmente tem muita sorte porque hoje vou matar somente Amanda.
Mas amanhã quem sabe te faça uma visita, vadia.


Escrito por Márcio Chacon (23/06/2016)

domingo, 20 de setembro de 2015

Comunicado extra-oficial

Me enchi de metedrina
peguei a mochila e saí
desviando de alguns morcegos
e demônios com dentes arreganhados

Explodi a prefeitura,
bombas caseiras, saca?

Empurrei uma velhas
em frente à ônibus que passavam
uma delas teve a cabeça esmagada pelas rodas

Esfaqueei uns pé-de-porco
entrei com um Opala e tudo no Carrefour
fiz uma limpa
os seguranças eram frouxos
deixei todos se estrebuchando

Fiz uma chacina
no prédio da Zero Hora
os filhos da puta recusaram um poema meu

Estuprei a garçonete do buteco
depois a afoguei na privada
já não me servia pra mais nada

Abri o manicômio e o presídio
deixei todos fugirem
são meus fiéis seguidores

É só o começo
fazia tempo que eu não andava por aqui
vocês ainda vão ouvir muito sobre mim

Estou de volta
meu nome é Jesus

Está aberta a temporada da degola.


Roleta-russa














terça-feira, 9 de junho de 2015

Gravatas


Não gostava de gravatas. Saía pela manhã cheirando a café, cigarro e mofo, suas baratas e ratos de estimação ficavam na porta, acenando, enquanto passava o ônibus com alguns tripulantes engravatados. Seu olho esquerdo tremia freneticamente ao vê-los de relance, preferia ficar em pé, estático, os dentes acirrados e as mãos suando, geladas. Ficava a planejar numa forma de pôr um fim naquilo tudo. Todos os dias.

Já não enxergava mais as pessoas, eram tudo gravatas. No trabalho, mais gravatas. Gravatas tomando café, coçando o saco, contando piadas, peidando. Gravatas trabalhando na grande máquina sanguessuga, chupando a alma dos pobres diabos que chegavam se arrastando, suplicando menos taxas e juros.

Na rua, gravatas berrando ao telefone, xingando umas às outras, gravatas enfileiradas esperando seu McLanche Feliz, assistindo a um imbecil qualquer na TV, outras em transe, rodeando uma gravata com bíblia na mão.

Não gostava de gravatas. Precisava acabar com aquilo.

Certo dia chegou em casa, atirando a pasta na cama e afrouxando o gola da camisa. Pegou a garrafa e começou a mamar seu bíter, ele queria evitar as palavras de seu falecido pai, mas elas marretavam cada vez mais forte em sua cabeça: "- Filho, espero ainda estar vivo para vê-lo homem, com um bom emprego, de terno e gravata. Um homem sem gravata não deve ser levado a sério. Mulher, traga-me o torresmo!".

Então foi até o fundo do guarda-roupa e a retirou de dentro da caixa de uma sandália da Azaléia. Estava intacta, vermelho-sangue, hipnotizante: a gravata que roubara de seu pai quando este descansava no caixão. Colocou-a, e imediatamente sentiu seu sangue fluir, ferver, pulsando nas veias; sente algo com um soco no estômago e começa a ficar sem ar, debruça-se na mesa e aos poucos vai aliviando, a cada inspiração e expiração. E então se sente bem. Melhor do que nunca.

Sai de casa como se um véu tivesse sido retirado de sua cabeça, tudo é muito claro e já não enxerga somente gravatas. Consegue ver os rostos, analisa-os, sente-se feliz. Uma alegria como há muito não sentia. Passeia sem rumo pela cidade até anoitecer. Então chega em casa e tudo é diferente, senta-se no sofá, a paz reina em sua cabeça. Dorme profundamente.

No dia seguinte foi encontrado morto, dizem que se enforcou com a gravata, que havia ultrapassado a pele de seu pescoço, mas ainda assim sorria. Um sorriso satisfeito de alguém que talvez tenha levado a sério demais o nó da gravata.